Destinos para Quem Ama Queijos – Parte 1
- Laene Carvalho
- 29 de mai.
- 3 min de leitura
França, Itália e Brasil: três mundos, três jeitos de transformar leite em afeto.
Se você é como eu — que vê o queijo como algo muito além de um alimento — então se prepare.
Esse post não é só um roteiro de viagem. É um convite a sentir. Porque queijo, quando tem alma, te faz lembrar de onde você veio. Ou descobrir para onde você quer ir.
No último ano, mergulhei de vez no universo dos queijos. Estudei com a mesma paixão que dedico ao vinho, porque entendi que eles se complementam — como uma conversa entre sabores, texturas e tempo. E quanto mais eu aprendo, mais me apaixono.
Hoje quero te levar comigo por três países que marcaram minha jornada nessa descoberta sensorial: França, Itália e Brasil. Cada um com sua história, seu sotaque e sua forma de transformar cuidado em sabor.

Itália: onde cada vila guarda um segredo com gosto de história
Na Itália, queijo não é só ingrediente. É herança. É o tipo de coisa que as pessoas fazem com as mãos que aprenderam com a avó, e que vão ensinar pros netos.
Você encontra Parmigiano quebrado à mão nas mesas simples e nas festas da elite.
Pecorinos envelhecidos nos porões de pedra. Burratas feitas na hora, com aquele brilho úmido que só queijo vivo tem.
Prove devagar:
Parmigiano Reggiano com 36 meses (e por favor, nunca rale — quebre em lascas!)
Pecorino Toscano com mel ou geleia de figo
Burrata de Andria com azeite local, sal marinho e pão de fermentação natural
Experiência transformadora:
Se for pra Puglia (e você merece ir), vá até uma fazenda familiar em Andria. Peça pra ver a burrata sendo feita. Ver a stracciatella sendo preparada na hora com leite de búfala fresco...
É uma cena que não sai mais da sua memória. Agora imagine provar ela ainda morna, com pão rústico e azeite verde escuro da região. É tipo um poema servido no prato.
Harmonize como um italiano:
Chianti Classico com Pecorino
Barolo com Parmigiano
Franciacorta brut com burrata e presunto cru
Brasil: queijo com sotaque, alma e orgulho
Sou brasileira com muito orgulho — e também quando falo de queijo. Porque hoje, o Brasil é terra de queijo bom. De verdade.
Minas é, sim, um ícone. Mas o mais bonito é ver que do interior de São Paulo até a serra de Santa Catarina, a gente está criando um movimento de queijos autorais, premiados, com sabor e identidade que emocionam.
Prove com o coração aberto:
Canastra curado de casca florida (com notas de castanha e uma crosta que parece poesia)
Queijo do Serro (suave, amanteigado, com final de memória afetiva)
Cuesta Paulista (um dos mais complexos e inovadores do país)
Experiência que todo amante de queijo deveria viver:
Vá para São Roque de Minas no Festival do Queijo Artesanal. Converse com quem faz, com quem cuida. Observe os gestos de quem massageia cada peça, dia após dia, pra que ela cure com equilíbrio. Isso é ritual. É presença. É Brasil com sotaque no paladar.
Harmonize com orgulho nacional:
Espumante da Serra Gaúcha com queijos de casca lavada
Syrah do Vale do São Francisco com Canastra mais intenso
Sauvignon Blanc catarinense com queijos de massa mole e mofo branco
França: onde o queijo sussurra histórias pelas paredes das caves
Ah, a França… O primeiro país que me fez entender que queijo não se guarda na geladeira, mas sim no coração.
Lá, o queijo não é coadjuvante. Ele aparece no café da manhã, nos almoços demorados, nas vitrines poéticas dos mercados de rua e, claro, nas caves subterrâneas que cheiram a mofo, pedra, madeira antiga e mistério.
Prove com respeito:
Camembert de Normandia (dê tempo pra ele respirar antes de provar)
Comté do Jura (procure os com 24 ou 36 meses de cura)
Roquefort maturado naturalmente (feito com penicillium roqueforti selvagem!)
Experiência que muda tudo:
Agende uma visita às caves em Roquefort-sur-Soulzon. Não é só turismo. É como entrar em um organismo vivo. As fendas naturais da rocha abrigam os queijos como um templo. E quando te servem dois Roqueforts — um jovem e outro mais envelhecido — você entende, na boca, o que é tempo, umidade e alma.
Harmonização que abraça:
Champagne brut com camembert cremoso
Bourgogne branco com comté
Sauternes com roquefort e pão levemente tostado
Esse é só o começo.
Na Parte 2, te levo pra Espanha, Suíça e Portugal — porque o mundo dos queijos é vasto e cheio de histórias que valem ser mastigadas com calma.
Mas por hoje, se eu puder te deixar com uma vontade… é essa:
Prove com intenção.
Viaje com o paladar.
E viva o queijo como ele merece: com alma, presença e prazer.
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